sábado, 4 de junho de 2016

A jornada dos voluntários contra o câncer - Amaral Carvalho 100 anos




O que é importante na vida? Por que tem gente que deixa o aconchego do lar para ser voluntária no apoio às pessoas acometidas por câncer, inclusive suas desconhecidas? Por que viajar quase mil quilômetros de ônibus, de Jaú, no interior de São Paulo, a Brasília, para participar de Sessão Especial, no Plenário do Senado Federal, em homenagem aos 100 anos do Hospital Amaral Carvalho (HAC), referência no tratamento de cânceres e transplante de medula óssea?

Com essas e outras perguntas, embarquei, na noite do último 15 de maio, em ônibus da Viação Jauense, rumo à capital federal, para testemunhar um momento histórico para o hospital: a homenagem ao seu primeiro centenário no mítico salão azul da alta corte legislativa do país, o Senado Federal. Integrava a comitiva 40 representantes de Ligas de Combate ao Câncer do HAC, que mobilizam cerca de cinco mil voluntários, em 350 cidades do país afora.

Viajando com o rei

Passava das dez da noite quando Seu Flávio, um dos timoneiros da nossa jornada, ligou o motor e anunciou o embarque. Muitos passageiros já haviam enfrentado horas de estrada para chegar a Jaú, ponto de partida da expedição brasiliana. E eu pensei, então: “de onde vem tanta disposição dessas pessoas, muitas em idade avançada, algumas que superaram o câncer, outras, parentes de vítimas da doença? Que ‘combustível’ moveria essa gente?”

Silêncio se instalou nos primeiros momentos da viagem. Seria o silêncio dos guerreiros, após anos de batalha contra o inimigo figadal? O motivo mostrou ser bem mais prosaico: aqui e acolá, ouvia-se o desembrulhar de sacolinhas de lanche que cada um recebera no embarque. Depois vieram as orações, e, na sequência, as conversas e as gargalhadas.

O ônibus se tornou uma festa quando o rei Roberto Carlos entoou o show Detalhes,  em DVD. Pelo visto, todos conheciam as músicas de cor. O rei cantou até rouco! Já eu fiquei com o rei nos ouvidos por mais de uma semana.

Na madrugada adentro, fria e chuvosa, cansados de tantas emoções do rei, conhecemos os famosos buracos das estradas mineiras e goianas. “Mariza, cuidado que a mala pode cair!”, alertou voz escondida no anonimato da escuridão. Todos sabiam que as bagagens escorregavam dos compartimentos acima dos bancos dos passageiros. Então, ouvimos um “Ai!” Foi uma risada geral!

Vitoriosos voluntários

Após centenas de quilômetros percorridos, algumas bagagens na cabeça e duas ou três paradas em postos, entendi um pouco a vida dos meus companheiros de viagem. A maioria era muito mais que sobrevivente de uma doença cruel e muitas vezes implacável. Eram verdadeiros vitoriosos voluntários, voltados à sublime ação de preservação da vida, de seus próximos e distantes, de quem for.

“Quando tive câncer, senti na pele as dificuldades que os doentes têm para prosseguir o tratamento. Tem gente que depende de transporte para ir a Jaú; tem gente que não tem condições de manter uma alimentação equilibrada, essencial para suportar as sessões de quimioterapia. A minha experiência e a proximidade com pessoas que viveram e vivem essa mesma realidade, me fizeram perceber que a solidariedade é fundamental para quem passa por esse drama”, contou Célia Lincoln do Amaral, 59, ex-paciente do Hospital Amaral Carvalho, fundadora do Grupo de Voluntários de Combate ao Câncer de Capão Bonito, há 10 anos vinculado às Ligas de Combate ao Câncer do HAC (à direita na foto).

“Comemorar os 100 anos do Amaral em Brasília, que fez muito por mim e faz por todos os pacientes com câncer, trouxe-me orgulho, uma emoção incontida de vivenciar esse momento”, completou Célia, informando que mais de 300 pacientes de Capão Bonito, se encontram em tratamento no Amaral Carvalho, recebendo suporte material, acompanhamento e apoio emocional dos voluntários.

Marcelo Rodrigo de Oliveira, 37, do Grupo de Voluntários de Combate ao Câncer de Itapuí, disse: “Há dois anos perdi minha mãe para o câncer e, na época, recebi apoio caloroso dos voluntários de Itapuí. Isso me tocou profundamente e, desde então, senti que precisava fazer algo mais para as pessoas doentes, até como retribuição. Hoje não vivo sem o voluntariado. Por isso também fiz questão de acompanhar meus colegas para homenagear o Amaral Carvalho. Foi uma questão de gratidão, de caráter, para mim”.

Dona Antonia Sant´Ana Baldella, a dona Toninha, afirmou. “Tenho 80 anos e há 20 sou voluntária do Grupo de Combate ao Câncer de Pederneiras. Contribuo diariamente com algumas tarefas e sempre participo dos eventos e viagens. Tenho boa saúde e, até quando puder, vou prosseguir. Procuro dar esse exemplo aos mais jovens e àqueles que ainda não experimentaram a satisfação, a razão de ser um voluntário”.

City tour e bacalhau   Após 14 horas de viagem, a chegada ao hotel Athos Bulcão, no coração de Brasília, foi acalentada pelos atenciosos Paulo e Daniel, da Ação Comunicativa, gestora da área institucional do Amaral Carvalho, em Brasília. Dois banners 'enoormes”, um dos 100 anos do HAC e outro dos voluntários, ocupavam as laterais da porta da recepção e me deram a sensação de estar chegando em terra conhecida!

O almoço, no próprio hotel, foi servido antes do check-in. Mal tivemos tempo de colocar nossas malas nos apartamentos e nos restabelecer! Logo todo mundo se reencontrou no hall para um city tour, com escalas previstas na Catedral de Brasília, na Esplanada dos Ministérios, e no Santuário Dom Bosco.

Visitamos também o Itamaraty, o Palácio da Alvorada, o Palácio do Planalto e a Praça dos Três Poderes, onde estão também o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Congresso Nacional. Faltou tempo para contemplar essas obras arquitetônicas, emblemáticas de Brasília. Apesar de todos os escândalos representados por aqueles prédios, estar ali, na sede dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, nos faz esquecer todas as mazelas. É uma emoção indescritível!

Aparecida Delphine, do Grupo de Voluntários do Combate ao Câncer de Pirassununga, tirou infinitas fotos. Ana Cristina Amôr, de Cabrália Paulista, também. Na volta ao hotel, a orientação do coordenador, Seu Eduardo Nadalet, foi imperativa: “todos prontos no saguão às 19h30”.  Iríamos ao restaurante Dom Francisco, para uma bacalhoada servida especialmente ao grupo de voluntários do Amaral Carvalho.

Com vista privilegiada do Lago Paranoá, foi lá que nos encontramos com a diretoria do Hospital Amaral Carvalho, com quem compartilharíamos as emoções durante o evento comemorativo no dia seguinte. Foi lá também que todos afinaram ainda mais o convívio fraterno e trocaram experiências sobre o que é ser um voluntário no combate ao câncer.

Quebrando o protocolo

Na manhã de 17 de maio, estávamos exaustos. A cerimônia de comemoração do centenário Amaral Carvalho, no Senado Federal, estava marcada para 11h. Após o café da manhã e o check-out do hotel, seguimos para lá. Sobre a roupa de gala, vestimos a camiseta alusiva aos voluntários feita especialmente para o evento.

Quase todos do grupo visitavam pela primeira vez o Congresso Nacional. Estávamos tão deslumbrados que nada poderia nos irritar, nem as rígidas regras de segurança do Legislativo. Já no interior do Senado, os celulares trabalharam exaustivamente para registrar tudo. Flashes reluziam para todos os lados. O patriotismo de pisar no tapete azul só pode ser explicado mesmo por quem tem a sensibilidade para reconhecer os momentos mágicos.

A sessão especial começou pontualmente às 11h e foi presidida pela senadora Marta Suplicy (PMDB-SP), autora da iniciativa da comemoração dos 100 anos do Amaral Carvalho no Senado Federal. “Vocês entendem, trabalham e se importam com as pessoas, com cada pessoa que sofre de câncer, e esse gesto tem enorme importância. Nossa gratidão pela solidariedade, pelo amor que cada um dedica a essa causa”, disse ela, referindo-se aos voluntários.

O superintendente do hospital, Antonio Luís Cesarino de Moraes Navarro agradeceu a todos que contribuíram e ainda contribuem com a história do HAC.  Anunciou, então, que a entidade instituiu dois títulos distintivos para expressar esse sentimento de gratidão: Mérito Parlamentar da Saúde e Benemérito da Saúde.  “Nós temos como missão salvar vidas. Por isso, afirmamos, orgulhosamente, que são 100 anos celebrando vidas”, disse ele.

Em seguida, Navarro quebrou o protocolo ensejando que o presidente da Fundação Amaral Carvalho, Vitorio Munerato Neto, entregasse o título e a medalha Mérito Parlamentar da Saúde, além de uma réplica do Ursinho Elo, à senadora Marta Suplicy.  O Elo é o símbolo do tratamento humanizado às crianças com câncer no HAC e eu fiquei feliz por ter sido a dama de honra responsável por levar o Ursinho para o Senado. (Leia mais sobre as homenagens no link http://migre.me/tVq5M).

Encerrada a sessão especial, os voluntários se concentraram em frente à Mesa Diretora do Senado para tirar fotografias com a senadora, com os deputados e outras autoridades e personalidades presentes, entre eles, o deputado e cantor Sérgio Reis e o jornalista esportivo Milton Neves.

O Rei do Berrante chegou a cantar com o grupo um de seus maiores sucessos: Panela Velha. E Milton Neves foi um dos mais assediados para tirar fotos. Os voluntários têm um respeito e um carinho muito especial por ele, tamanha sua dedicação ao HAC. Quando Milton Neves subiu à tribuna do Senado e anunciou, “Eu voto NÃO ao câncer e voto SIM para o Hospital Amaral Carvalho!”, o plenário quase veio abaixo.   Por volta das 13h, os voluntários deixaram o Congresso e despediram-se de Brasília com um almoço comemorativo, ocasião em que o coordenador das Ligas de Combate ao Câncer, José Eduardo Nadalet,  foi homenageado com o título de Benemérito da Saúde, sendo ovacionado pelos 36 anos de trabalho dedicado à causa do câncer. O protocolo do Senado não deixou que isso ocorresse no Plenário da casa.

A volta a Jaú? Bem, a volta foi mais rápida, mais divertida, e certamente menos cansativa.  O Marcelo, o cara de Itapuí, comprou um DVD de piadas de uma dupla da região de Goiás para ouvirmos na viagem, no lugar de Roberto Carlos. Não dá nem pra contar...

E se perguntarem a cada um de nós se voltaríamos a Brasília, de ônibus, a resposta seria unânime: sim, faríamos tudo de novo! Eu aprendi, finalmente, o que move toda aquela gente maravilhosa: solidariedade e gratidão.

Veja mais fotos: http://migre.me/u069F.


Autor: Juliana Parra
Imprensa: Departamento de Comunicação e Marketing do HAC
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