O que é
importante na vida? Por que tem gente que deixa o aconchego do lar para ser
voluntária no apoio às pessoas acometidas por câncer, inclusive suas
desconhecidas? Por que viajar quase mil quilômetros de ônibus, de Jaú, no
interior de São Paulo, a Brasília, para participar de Sessão Especial, no
Plenário do Senado Federal, em homenagem aos 100 anos do Hospital Amaral Carvalho
(HAC),
referência no tratamento de cânceres e transplante de medula óssea?
Com essas e
outras perguntas, embarquei, na noite do último 15 de maio, em ônibus da Viação
Jauense, rumo à capital federal, para testemunhar um momento histórico para o
hospital: a homenagem ao seu primeiro centenário no mítico salão azul da alta
corte legislativa do país, o Senado Federal. Integrava a comitiva 40
representantes de Ligas de Combate ao Câncer do HAC, que mobilizam cerca de
cinco mil voluntários, em 350 cidades do país afora.
Viajando com o rei
Passava das
dez da noite quando Seu Flávio, um dos timoneiros da nossa jornada, ligou o
motor e anunciou o embarque. Muitos passageiros já haviam enfrentado horas de
estrada para chegar a Jaú, ponto de partida da expedição brasiliana. E eu
pensei, então: “de onde vem tanta disposição dessas pessoas, muitas em idade
avançada, algumas que superaram o câncer, outras, parentes de vítimas da
doença? Que ‘combustível’ moveria essa gente?”
Silêncio se
instalou nos primeiros momentos da viagem. Seria o silêncio dos guerreiros,
após anos de batalha contra o inimigo figadal? O motivo mostrou ser bem mais
prosaico: aqui e acolá, ouvia-se o desembrulhar de sacolinhas de lanche que
cada um recebera no embarque. Depois vieram as orações, e, na sequência, as
conversas e as gargalhadas.
O ônibus se
tornou uma festa quando o rei Roberto Carlos entoou o show Detalhes, em
DVD. Pelo visto, todos conheciam as músicas de cor. O rei cantou até rouco! Já
eu fiquei com o rei nos ouvidos por mais de uma semana.
Na madrugada
adentro, fria e chuvosa, cansados de tantas emoções do rei, conhecemos os
famosos buracos das estradas mineiras e goianas. “Mariza, cuidado que a mala
pode cair!”, alertou voz escondida no anonimato da escuridão. Todos sabiam que
as bagagens escorregavam dos compartimentos acima dos bancos dos passageiros.
Então, ouvimos um “Ai!” Foi uma risada geral!
Vitoriosos voluntários
Após
centenas de quilômetros percorridos, algumas bagagens na cabeça e duas ou três
paradas em postos, entendi um pouco a vida dos meus companheiros de viagem. A
maioria era muito mais que sobrevivente de uma doença cruel e muitas vezes
implacável. Eram verdadeiros vitoriosos voluntários, voltados à sublime ação de
preservação da vida, de seus próximos e distantes, de quem for.
“Quando tive
câncer, senti na pele as dificuldades que os doentes têm para prosseguir o
tratamento. Tem gente que depende de transporte para ir a Jaú; tem gente que
não tem condições de manter uma alimentação equilibrada, essencial para
suportar as sessões de quimioterapia. A minha experiência e a proximidade com
pessoas que viveram e vivem essa mesma realidade, me fizeram perceber que a
solidariedade é fundamental para quem passa por esse drama”, contou Célia
Lincoln do Amaral, 59, ex-paciente do Hospital Amaral Carvalho, fundadora do
Grupo de Voluntários de Combate ao Câncer de Capão Bonito, há 10 anos vinculado
às Ligas de Combate ao Câncer do HAC (à direita na foto).
“Comemorar
os 100 anos do Amaral em Brasília, que fez muito por mim e faz por todos os
pacientes com câncer, trouxe-me orgulho, uma emoção incontida de vivenciar esse
momento”, completou Célia, informando que mais de 300 pacientes de Capão
Bonito, se encontram em tratamento no Amaral Carvalho, recebendo suporte
material, acompanhamento e apoio emocional dos voluntários.
Marcelo
Rodrigo de Oliveira, 37, do Grupo de Voluntários de Combate ao Câncer de
Itapuí, disse: “Há dois anos perdi minha mãe para o câncer e, na época, recebi
apoio caloroso dos voluntários de Itapuí. Isso me tocou profundamente e, desde
então, senti que precisava fazer algo mais para as pessoas doentes, até como
retribuição. Hoje não vivo sem o voluntariado. Por isso também fiz questão de
acompanhar meus colegas para homenagear o Amaral Carvalho. Foi uma questão de
gratidão, de caráter, para mim”.
Dona Antonia
Sant´Ana Baldella, a dona Toninha, afirmou. “Tenho 80 anos e há 20 sou
voluntária do Grupo de Combate ao Câncer de Pederneiras. Contribuo diariamente
com algumas tarefas e sempre participo dos eventos e viagens. Tenho boa saúde
e, até quando puder, vou prosseguir. Procuro dar esse exemplo aos mais jovens e
àqueles que ainda não experimentaram a satisfação, a razão de ser um
voluntário”.
City tour e bacalhau Após 14 horas de viagem, a chegada ao hotel Athos
Bulcão, no coração de Brasília, foi acalentada pelos atenciosos Paulo e Daniel,
da Ação Comunicativa, gestora da área institucional do Amaral Carvalho, em
Brasília. Dois banners 'enoormes”, um dos 100 anos do HAC e outro dos
voluntários, ocupavam as laterais da porta da recepção e me deram a sensação de
estar chegando em terra conhecida!
O almoço, no
próprio hotel, foi servido antes do check-in. Mal tivemos tempo de colocar
nossas malas nos apartamentos e nos restabelecer! Logo todo mundo se
reencontrou no hall para um city tour, com escalas previstas na Catedral de
Brasília, na Esplanada dos Ministérios, e no Santuário Dom Bosco.
Visitamos
também o Itamaraty, o Palácio da Alvorada, o Palácio do Planalto e a Praça dos
Três Poderes, onde estão também o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Congresso
Nacional. Faltou tempo para contemplar essas obras arquitetônicas, emblemáticas
de Brasília. Apesar de todos os escândalos representados por aqueles prédios, estar
ali, na sede dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, nos faz esquecer
todas as mazelas. É uma emoção indescritível!
Aparecida
Delphine, do Grupo de Voluntários do Combate ao Câncer de Pirassununga, tirou
infinitas fotos. Ana Cristina Amôr, de Cabrália Paulista, também. Na volta ao
hotel, a orientação do coordenador, Seu Eduardo Nadalet, foi imperativa: “todos
prontos no saguão às 19h30”. Iríamos ao restaurante Dom Francisco, para
uma bacalhoada servida especialmente ao grupo de voluntários do Amaral
Carvalho.
Com vista
privilegiada do Lago Paranoá, foi lá que nos encontramos com a diretoria do
Hospital Amaral Carvalho, com quem compartilharíamos as emoções durante o
evento comemorativo no dia seguinte. Foi lá também que todos afinaram ainda
mais o convívio fraterno e trocaram experiências sobre o que é ser um
voluntário no combate ao câncer.
Quebrando o protocolo
Na manhã de
17 de maio, estávamos exaustos. A cerimônia de comemoração do centenário Amaral
Carvalho, no Senado Federal, estava marcada para 11h. Após o café da manhã e o
check-out do hotel, seguimos para lá. Sobre a roupa de gala, vestimos a
camiseta alusiva aos voluntários feita especialmente para o evento.
Quase todos
do grupo visitavam pela primeira vez o Congresso Nacional. Estávamos tão
deslumbrados que nada poderia nos irritar, nem as rígidas regras de segurança
do Legislativo. Já no interior do Senado, os celulares trabalharam
exaustivamente para registrar tudo. Flashes reluziam para todos os lados. O
patriotismo de pisar no tapete azul só pode ser explicado mesmo por quem tem a
sensibilidade para reconhecer os momentos mágicos.
A sessão
especial começou pontualmente às 11h e foi presidida pela senadora Marta
Suplicy (PMDB-SP), autora da iniciativa da comemoração dos 100 anos do Amaral
Carvalho no Senado Federal. “Vocês entendem, trabalham e se importam com as
pessoas, com cada pessoa que sofre de câncer, e esse gesto tem enorme
importância. Nossa gratidão pela solidariedade, pelo amor que cada um dedica a
essa causa”, disse ela, referindo-se aos voluntários.
O
superintendente do hospital, Antonio Luís Cesarino de Moraes Navarro agradeceu
a todos que contribuíram e ainda contribuem com a história do HAC.
Anunciou, então, que a entidade instituiu dois títulos distintivos para
expressar esse sentimento de gratidão: Mérito Parlamentar da Saúde e Benemérito
da Saúde. “Nós temos como missão salvar vidas. Por isso, afirmamos,
orgulhosamente, que são 100 anos celebrando vidas”, disse ele.
Em seguida, Navarro quebrou o protocolo ensejando que o presidente da Fundação Amaral Carvalho, Vitorio Munerato Neto, entregasse o título e a medalha Mérito Parlamentar da Saúde, além de uma réplica do Ursinho Elo, à senadora Marta Suplicy. O Elo é o símbolo do tratamento humanizado às crianças com câncer no HAC e eu fiquei feliz por ter sido a dama de honra responsável por levar o Ursinho para o Senado. (Leia mais sobre as homenagens no link http://migre.me/tVq5M).
Encerrada a
sessão especial, os voluntários se concentraram em frente à Mesa Diretora do
Senado para tirar fotografias com a senadora, com os deputados e outras
autoridades e personalidades presentes, entre eles, o deputado e cantor Sérgio
Reis e o jornalista esportivo Milton Neves.
O Rei do Berrante chegou a cantar com o grupo um de seus maiores sucessos: Panela Velha. E Milton Neves foi um dos mais assediados para tirar fotos. Os voluntários têm um respeito e um carinho muito especial por ele, tamanha sua dedicação ao HAC. Quando Milton Neves subiu à tribuna do Senado e anunciou, “Eu voto NÃO ao câncer e voto SIM para o Hospital Amaral Carvalho!”, o plenário quase veio abaixo. Por volta das 13h, os voluntários deixaram o Congresso e despediram-se de Brasília com um almoço comemorativo, ocasião em que o coordenador das Ligas de Combate ao Câncer, José Eduardo Nadalet, foi homenageado com o título de Benemérito da Saúde, sendo ovacionado pelos 36 anos de trabalho dedicado à causa do câncer. O protocolo do Senado não deixou que isso ocorresse no Plenário da casa.
A volta a
Jaú? Bem, a volta foi mais rápida, mais divertida, e certamente menos
cansativa. O Marcelo, o cara de Itapuí, comprou um DVD de piadas de uma
dupla da região de Goiás para ouvirmos na viagem, no lugar de Roberto Carlos.
Não dá nem pra contar...
E se
perguntarem a cada um de nós se voltaríamos a Brasília, de ônibus, a resposta
seria unânime: sim, faríamos tudo de novo! Eu aprendi, finalmente, o que move
toda aquela gente maravilhosa: solidariedade e gratidão.
Veja mais fotos: http://migre.me/u069F.
Autor: Juliana Parra
Imprensa:
Departamento de Comunicação e Marketing do HAC
Rua das
Palmeiras, 89 - Jahu (SP) - Tel.: (14) 3602-1216 / 98138-7006
Doações por telefone: (14)
3602-1239
Ouvidoria: (14)
3602-1388 - ouvidoria@amaralcarvalho.org.br
@amaral_carvalho - fb.com/fundacaohospitalamaralcarvalho
Nenhum comentário:
Postar um comentário