sexta-feira, 1 de abril de 2016

Humilhada pelo ex-marido, mulher com câncer dá a volta por cima e é exemplo de superação




A vida de Iranildes dos Santos não foi nada fácil. Aos 26 anos, com três filhos pequenos e um casamento fadado ao fracasso, descobriu ser portadora de aplasia grave, caracterizada pela alteração no funcionamento da medula óssea. Paciente do Hospital Amaral Carvalho, em Jaú, referência no Brasil no tratamento de câncer, ela vem amargando, durante os últimos 11 anos, muitas idas e vindas entre Manaus, capital do Estado do Amazonas, onde vive com dois filhos, e o interior de São Paulo, onde faz o tratamento contra a doença.

A infância de Ira, como ela é chamada, também foi um tanto quanto conturbada. Sua mãe, assim como fez com os outros filhos, a entregou para uma família de posses, para que a menina pudesse trabalhar como empregada doméstica e garantir seu próprio sustento. “Eu tinha uns nove ou 10 anos quando ela me mandou para a casa de uma mulher rica. Eu não gostava de viver lá, apesar de ter tudo o que precisava. Queria mesmo era ficar perto da minha mãe, do meu pai e de meus irmãos. Algumas vezes eu fugia e voltava para casa, mas ela acabava me entregando a outra família”, lembra.

Para Iranildes, ainda é incompreensível o motivo para a mãe fazer o que fazia. Até hoje, ela e seus irmãos não conseguem compreender tal atitude. “Meu pai era muito trabalhador, não deixava faltar nada em casa. Eles tinham condições de cuidar dos filhos. Não sei por que minha mãe fazia aquilo. Ela entregou todos os filhos”, fala com um certo ressentimento.

Descoberta

Ainda adolescente, Iranildes casou-se e logo teve seus filhos: Dheniffer, Ítalo e Yasmin, hoje com 21, 18 e 16 anos, respectivamente. Foi uma fase aparentemente tranquila na sua vida, mas, em 2005, algo estranho começou a acontecer com ela. “Me lembro bem que meu ex-marido havia saído para caçar porque não tinha nada para comer em casa. Quando voltou, com um porco do mato, fiquei com receio de comer porque estava menstruada. E quando estamos nessas condições temos o costume de não comer nada remoso (gorduroso). Mesmo assim, resolvi arriscar porque estava com fome. Dias depois, comecei a sentir tonturas, inchaço nas pernas e tinha manchas roxas pelo corpo. Percebi, então, que o sangue não estancava e achei que fosse por causa do porco do mato”.

Os sintomas só se agravavam. Ira começou a tomar chá de pau travoso, uma bebida medicinal muito consumida pelos amazonenses, mas a hemorragia continuava, dessa vez pela gengiva. Um dia, com fortes dores de cabeça, ela desmaiou e foi levada a um hospital em Manaus.

Diagnosticada com uma grave aplasia – doença que compromete a produção dos componentes do sangue e pode levar à morte, Ira foi transferida para um hospital especializado, mas seu caso já estava bastante avançado. Foi quando os médicos a encaminharam para o Hospital Amaral Carvalho, o Hospital do Câncer de Jaú, a mais de 3.600 quilômetros de distância, para um transplante de medula óssea. Seria o último recurso para Iranildes sobreviver.

Para o transplante, quatro dos irmãos poderiam doar a medula, com 100% de compatibilidade. “O mais novo, o Edson, na época com 25 anos, foi o doador. Nossa relação ficou ainda mais estreita. Sempre nos demos muito bem, mas, quando crianças, fomos separados pela nossa mãe e depois cada um seguiu sua vida. Não tínhamos mais tanto contato”, conta.

O procedimento ocorreu em setembro de 2005, oito meses após o diagnóstico. Enquanto Ira esteve em Jaú, suas irmãs cuidaram dos filhos dela. “Fiquei muito preocupada com as crianças. Minha caçula tinha apenas cinco aninhos na época. A Dheniffer, com 10 anos, ajudou a olhar os irmãos. Minha pequena até hoje a chama de mãe também”, revela orgulhosa.

Humilhação

Ao voltar para casa, em Manaus, em vez de encontrar conforto nos braços do ex-marido, Iranildes foi terrivelmente humilhada por ele. “Como eu estava careca e inchada, ele me rebaixava, dizendo que eu era uma mulher feia e inválida. Eu sofri muito, mas aguentei firme por muito tempo. Ainda bem que pude contar com o apoio dos meus filhos. Eles foram o motivo pelo qual não desisti de lutar”, ressalta.

Cansada do desprezo do marido, Iranildes resolveu deixá-lo. Está separada há sete anos e tem orgulho de ter garantido o sustento e o estudo dos filhos sozinha. Dheniffer, a mais velha, já está casada há três anos e seus dois outros irmãos só estudam, não trabalham. “Faço questão que eles estudem. Enquanto puder, vou sustentá-los. Tudo o que não recebi da minha mãe, faço pelos meus filhos. Eles são tudo para mim”, declara Ira.

Um ano após o transplante, Ira começou a trabalhar e estudar. Tinha dois empregos e estudava à noite. A maioria das pessoas, segundo ela, não apoiava a iniciativa. “Só meus filhos acreditaram em mim. Hoje estou terminando a faculdade de administração de empresas e trabalho como corretora de imóveis em Manaus”.

Dheniffer, que esteve em Jaú com Ira no último retorno ao Amaral Carvalho, se emociona quando lembra do sofrimento da mãe e do abandono do pai. “Ela é uma guerreira. Sinto o maior orgulho da minha mãe. Tive que amadurecer mais cedo para cuidar dos meus irmãos, mas não me queixo disso. Até hoje, quando meu irmão vai dormir em casa, ele pede bênção para mim antes de ir para cama. Eu digo: ah, Deus te abençoe”, conta sorrindo.

Elas ficaram hospedadas na casa de apoio Ignês de Carvalho, que recebe pacientes em tratamento no Amaral Carvalho pelo Sistema Único de Saúde. Nessas casas, os pacientes recebem várias refeições diárias, hospedagem e apoio social. Tudo custeado pelo Hospital Amaral Carvalho!

Iranildes é um exemplo de superação. Após 11 anos de tratamento intenso, fará os retornos ao hospital a cada ano, por enquanto. “A próxima vez no Amaral Carvalho, só daqui a um ano, se Deus quiser”, fala com alegria e esperança.

Assim como ela, muitos amazonenses são atendidos no Hospital Amaral Carvalho para cura do câncer ou outras doenças graves do sangue. Em 2015, conforme estatísticas da Fundação Amaral Carvalho, mantenedora do hospital, aproximadamente 700 atendimentos foram realizados a pacientes do Amazonas para os quais foram feitos cerca de 9 mil procedimentos oncológicos.

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