Pelo menos uma vez por mês,
o tecelão Benedito de Oliveira, voluntário do Hospital Amaral Carvalho (HAC), vem de Boituva
a Jaú trazendo uma mala cheia de perucas para doar a pacientes que perderam os
cabelos em decorrência da quimioterapia. Ele mesmo é quem confecciona os
acessórios com fios naturais, doados à entidade Anna Marcelina de Carvalho,
vinculada ao hospital do câncer, por meio de campanhas.
As perucas de Seu Benedito
fazem a alegria das pacientes. “Gosto de olhar no espelho e me ver de cabelos
pretos”, disse a comerciária baiana Patrícia Reis, 45 anos, enquanto
experimentava vários modelos que haviam acabado de chegar.
Patrícia provou pelo menos
10 perucas, e a cada prova, um sorriso largo, quando não uma gargalhada… de
euforia e esperança.
“Eu não tive preconceito de
assumir a calvície, embora as pessoas na rua ficam olhando como se a gente
fosse se outro planeta, mas confesso que sempre gostei dos meus cabelos. Eu amo
estar arrumada, de batom, brincos, roupas e sapatos novos. E não seria o câncer
que me tiraria esse prazer”, afirma a baiana, mãe de Amanda, 22 anos.
Seu Benedito sabe da
importância de elevar a autoestima das pacientes durante o tratamento. “Para
muitas mulheres, o cabelo é tudo. Quando elas colocam uma peruca, se sentem
mais bonitas e seguras, e isso as ajuda a enfrentar a doença”, avalia.
Patrícia concorda. “Quando
visto uma peruca, me sinto com o astral lá em cima. Essa sensação me ajuda a
mudar o foco, a esquecer um pouco o sofrimento que o câncer provoca”.
A baiana foi diagnosticada
com leucemia há um ano e encaminhada para tratamento no Amaral Carvalho. Há
três meses foi submetida a um transplante de medula óssea, o último recurso
para a cura da doença. “Eu não tenho medo do câncer. Estou sofrendo as sequelas
do tratamento, mas sei que posso suportar. Como? Vivendo um dia após o outro
com esperança, com sorrisos e procurando ver beleza em todas as coisas. É aí
que a vaidade me ajuda. Hoje estou de peruca preta. Me sinto bonita assim. Amanhã,
não sei, talvez escolha uma ruiva. O importante é estar sempre bonita para a
vida”, completa Patrícia.
A paciente Patrícia prova perucas confeccionadas pelo tecelão
Benedito: "prefiro cabelos pretos"
Autor: Juliana Parra
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