Em 1995, o Hospital Amaral Carvalho
(HAC) — primeira entidade hospitalar do interior do Estado de São Paulo
especializada em câncer — começava a estruturar um serviço de Transplante de
Medula Óssea (TMO) após estudos e esforços das equipes médica e administrativa.
“Naquela época, as pessoas achavam que era coisa muito distante um hospital do
interior de São Paulo se propor a realizar transplantes”, lembra o
hematologista da instituição, Marcos Augusto Mauad.
Com os primeiros transplantes
realizados e bons resultados, em 1996 o Hospital começava a receber
encaminhamentos de diferentes cidades do País. Neste cenário, em 28 de julho de
1998, uma garotinha de 2 anos e 9 meses, moradora de Jahu, deu entrada no HAC
com diagnóstico de leucemia e foi tratada com quimioterapia. Contudo, nos anos
seguintes apresentou retorno da doença e o transplante de células tronco
hematopoiéticas passou a ser o único tratamento curativo. A menina chamada
Vanessa Canal não tinha doador compatível.
Enquanto isso, o número dos
transplantes de medula óssea realizados no HAC ia crescendo: no início, eram
principalmente autólogos (quando a médula ou células tronco são retiradas do
próprio paciente); em seguida, os alogênicos (quando o doador da medula é compatível
com o receptor), que são de maior complexidade, passaram a ser os mais
realizados na instituição.
O hematologista do HAC, Vergílio
Antonio Rensi Colturato relata que o transplante de medula óssea é um
procedimento complexo e que há vários fatores envolvidos para encontrar um
doador compatível. “Nesses casos, há 25% de chances de se encontrar o doador da
medula na família do paciente e 75% em outras fontes, como os bancos de
doadores — no Brasil, temos o Redome (Registro de Doadores de Medula Óssea),
instalado no Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva e que
conta com 2 milhões e 900 mil doadores cadastrados, o que o caracteriza como o
terceiro maior banco de dados do gênero do mundo”, explica.
Cordão
umbilical
Em 2004, a equipe de TMO do Hospital
Amaral Carvalho começava a estudar a possibilidade da realização de transplante
de célula tronco hematopoiética de cordão umbilical, justamente quando Vanessa
aguardava por um doador compatível.
Se estatísticamente nos casos de
transplante alogênico são necessários 100 mil doadores, em média, para
encontrar um compatível, para transplantes de cordão umbilical são necessários
20 mil para um. No entanto, de acordo com Mauad, esse tipo de transplante é
ainda mais complexo e sua possibilidade de uso varia.
Naquele ano, o banco público de
cordão umbilical do Inca tinha cerca de 200 unidades disponíveis para uso. Na
história do serviço de TMO do Hospital Amaral Carvalho e a paciente Vanessa
Canal, o cordão número 189 era compatível com a menina. “Tivemos uma
oportunidade de tratamento diferente para a Vanessa e realizamos então, no dia
8 de outubro o primeiro transplante de células tronco de cordão umbilical do
País, oriundo de um doador brasileiro”, conta Mauad.
Tudo correu dentro do planejado:
Vanessa comemorou seu aniversário de 9 anos na internação prévia ao
transplante, passou pelo procedimento e se recuperou rapidamente.
Homenagem
Hoje Vanessa tem 17 anos e se dedica
aos estudos para prestar vestibular para faculdade de odontologia, que é seu
sonho. No mês passado ela foi convidade para participar de um evento que
celebrou os 30 anos de existência do Centro de Transplante de Medula Óssea
(Cemo) do Inca.
Na ocasião, em meio a especialistas
de diferentes entidades que participaram do evento para discussões científicas
de captação de doadores e hemoterapia, a primeira paciente do Brasil a receber,
no Hospital Amaral Carvalho, um transplante de células tronco hematopoiéticas
tendo como fonte cordão umbilical, foi homenageada por ser um exemplo de
superação e levar esperança a pacientes oncológicos.
Mauad, que acompanhou de perto o
tratamento de Vanessa, afirma que além de representar a mudança do patamar de
complexidade dos transplantes de medula óssea realizados no Hospital, a
história da menina ocorreu pararela ao desenvolvimento da Oncologia Pediátrica,
da Hemoterapia e do serviço de TMO do HAC. “É um marco para o Hospital e para o
País, que se vê capaz de produzir benefícios para a saúde por meio do banco
público de cordões umbilicais”, comenta.
Dia
Nacional da Doação de Cordão Umbilical
Motivos para comemorar não faltam.
Além da homenagem do Inca, há um projeto de lei (PLS 299/2010) do senador do
Ceará, Inácio Arruda, que institui uma data nacional para incentivar a doação
de cordão umbilical. A data indicada é 8 de outubro, que é o dia da realização
do transplante de medula óssea de cordão umbilical de Vanessa, no HAC.
O projeto que recentemente foi
aprovado pela Comissão de Educação, Cultura e Esporte (CE), segue para a Câmara
dos Deputados para ser examinado.
Saiba
mais
Fundação
Hospital Amaral Carvalho
É um dos maiores e mais modernos
centros de oncologia do Brasil. Localizada em Jahu - SP, tem aproximadamente 2 mil
colaboradores e constitui-se na mais antiga entidade filantrópica privada
brasileira de assistência à saúde: são quase 100 anos de cuidados e promoção do
bem estar a pacientes carentes com câncer e suas famílias, por meio de
atendimento humanizado e serviços de saúde de alta qualidade.
TMO
O serviço de Transplante de Medula
Óssea do Hospital Amaral Carvalho, diferente da maioria dos centros de
transplante do Brasil, não é vinculado a nenhuma instituição universitária. A
Fundação Hospital Amaral Carvalho é a gestora do programa. Referência nacional,
em 2013, pelo terceiro ano consecutivo, o Serviço destacou-se entre as equipes
que realizam o procedimento no Brasil, segundo relatório da Associação
Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO): o balanço anual aponta que em
2012, dos 1.753 transplantes de medula óssea realizados por equipes
brasileiras, 206 foram feitos pelo serviço do HAC. O saldo mais expressivo é o
de transplantes alogênicos: 136 foram realizados na instituição, o que
representa 21,6% do total desse tipo de procedimento. Em 17 anos de atuação, a
unidade realizou mais cerca de 1.900 transplantes.
Os hematologistas Vergílio Rensi Colturato e Marcos Augusto Mauad, com a jovem Vanessa Canal
A placa de homenagem que Vanessa recebeu do Inca, no mês passado
Ariane Urbanetto
Departamento de Comunicação - Fundação Hospital
Amaral Carvalho
Rua das Palmeiras, 89 - Jahu (SP).
Tel.: (14) 3602-1216 / 8138-7006
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